Aquele dia foi um dos piores dias da minha vida. O monstro com cheiro de podre e o odor daquela casa fedida estavam de novo em mim. Agora meu ódio por ele era um milhão de vezes maior. Eu só pensava que quando crescesse iria matá-lo. Tentei falar para minha tia, mas ela estava tão bêbada quando chegou em casa que mal sabia o caminho do seu quarto. Novamente eu estava sozinha, ou quase sozinha...
Passaram-se 7 meses e minha menstruação não vinha. Sentia muito enjoo, além de dores abdominais. Não queria acreditar, mas a verdade estava ali. Minha barriga cresceu, como eu não me alimentava bem, pensei que era verme. Verme, que nada! Fui ao médico e ele constatou assim que entrei.
– Você está grávida.
– O quê?
– Você não percebeu que seu corpo mudou?
– Sim, percebi, mas achei que estava com verme, não me alimento corretamente.
Eu quis tirar a “coisa”, mas não era possível por causa do tempo que já estava grávida. “Coisa”: era assim que eu chamava o ser dentro de mim.
Ela nasceu de 8 meses e ficou no hospital em uma incubadora; eu nem quis vê-la. Era uma menina. Não tive leite, as enfermeiras amamentavam-na por outra mãe que estava no hospital.
Ela teve alta e tive que buscá-la. Até os 3 meses de nascida, eu não olhei para o rosto dela, nem a alimentei, quem cuidava dela era minha tia alcoólatra – sabe-se lá como! Ela nem me perguntou sobre a gravidez, nem quis saber quem era o pai daquela “coisa” horrorosa, nenhuma pergunta, nenhum abraço, nenhuma bronca, nada.
Ela teve alta e tive que buscá-la. Até os 3 meses de nascida, eu não olhei para o rosto dela, nem a alimentei, quem cuidava dela era minha tia alcoólatra – sabe-se lá como! Ela nem me perguntou sobre a gravidez, nem quis saber quem era o pai daquela “coisa” horrorosa, nenhuma pergunta, nenhum abraço, nenhuma bronca, nada.
Ah, se eu tivesse falado com minha mãe no dia em que tudo aconteceu, no dia do meu aniversário, nada disso teria acontecido comigo, eu não estaria perdida e o monstro estaria atrás das grades. Eu deveria ter tido coragem para falar, para gritar. Minha mãe teria ouvido. Ela, sim, teria me socorrido!
Continua na próxima edição.
A história acima é fictícia e baseada em fatos do cotidiano.
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