Desejo ardentemente mudar
de vida, mas meu corpo treme, minha mente às vezes trava, tenho dores de
cabeça.
Chegou o dia de ir para
casa, ou o que era a minha casa; porque fiquei tanto tempo nas ruas que meu lar
se tornou os becos, os lixos, as calçadas, a praia... Onde havia usuário de
drogas, ali eu estava; não importava o local, mas importava onde tinha um ponto
de venda. Eu fazia os programas e na mesma hora gastava todo o dinheiro com
crack...
Cheguei ao ponto de não
escovar meus dentes, perdi quatro deles.Meu cabelo era embaraçado, metade
preto, metade loiro; os cachos não existiam mais, eram quebrados e sem nenhuma
vida.
Minha pele estava
amarelada, meus pés rachados, minhas unhas escuras e podres. Eu me sentia o
lixo, o nada, queria morrer, queria minha mãe.
Ao entrar naquela casa,
voltei à minha infância, ao dia em que entrei pela primeira vez naquele quarto
preparado para mim, às vezes que fazia leite morno para tomar... Até do meu
macarrão sem molho lembrei, até ele era bom.
Minha tia veio me
encontrar, já não estava mais embriagada, seu olhar era outro, não tinha cheiro
de uísque, cheirava a perfume. A casa estava limpa e um cheirinho de sopa vinha
da cozinha. Ela segurou minha mão e disse:
– Minha querida, seu
quarto a espera.
Achei tudo tão
estranho... Como pode alguém mudar de uma hora para outra? Ela sempre foi
alcoólatra, não limpava a casa, nem comida fazia... Agora estava me chamando de
querida e fazendo sopa?
26ª de um total de
31 crônicas.
Continua na
próxima edição.
A história é
fictícia e baseada em fatos do cotidiano.
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