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domingo, 10 de junho de 2012

“Gastava tudo com crack”


Desejo ardentemente mudar de vida, mas meu corpo treme, minha mente às vezes trava, tenho dores de cabeça.

Chegou o dia de ir para casa, ou o que era a minha casa; porque fiquei tanto tempo nas ruas que meu lar se tornou os becos, os lixos, as calçadas, a praia... Onde havia usuário de drogas, ali eu estava; não importava o local, mas importava onde tinha um ponto de venda. Eu fazia os programas e na mesma hora gastava todo o dinheiro com crack...

Cheguei ao ponto de não escovar meus dentes, perdi quatro deles.Meu cabelo era embaraçado, metade preto, metade loiro; os cachos não existiam mais, eram quebrados e sem nenhuma vida.

Minha pele estava amarelada, meus pés rachados, minhas unhas escuras e podres. Eu me sentia o lixo, o nada, queria morrer, queria minha mãe.

Ao entrar naquela casa, voltei à minha infância, ao dia em que entrei pela primeira vez naquele quarto preparado para mim, às vezes que fazia leite morno para tomar... Até do meu macarrão sem molho lembrei, até ele era bom.

Minha tia veio me encontrar, já não estava mais embriagada, seu olhar era outro, não tinha cheiro de uísque, cheirava a perfume. A casa estava limpa e um cheirinho de sopa vinha da cozinha. Ela segurou minha mão e disse:

– Minha querida, seu quarto a espera.

Achei tudo tão estranho... Como pode alguém mudar de uma hora para outra? Ela sempre foi alcoólatra, não limpava a casa, nem comida fazia... Agora estava me chamando de querida e fazendo sopa?

26ª de um total de 31 crônicas.

Continua na próxima edição.

A história é fictícia e baseada em fatos do cotidiano.

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