30 de julho de 1988,
11h58
Abri os meus olhos. Minha
visão estava embaçada. Vi um quarto branco e agulhas em meu braço. Eu estava
tomando soro, André ao meu lado.
– O que aconteceu?
– Você sabia que estava
grávida e não me falou nada? Eu deveria deixar você aqui sozinha!
– Do que está falando?
Quem está grávida?
– Não se faça de ingênua!
O médico disse que você abortou. Queria ter um filho meu só para ficar comigo.
É isso?
Estava me sentindo um
lixo. Não sabia que estava grávida, e mesmo que estivesse, aquela reação do
André não era justa. Ele saiu revoltado pela porta do quarto e não voltou mais.
Recebi alta dois dias depois e fui para a casa da minha mãe. André não foi me
visitar. Ela fez sopa de espinafre e deixou-me de repouso por cinco dias. O
cuidado dela era imenso comigo. Percebi que em nenhum momento me falou do seu
Deus, mas senti falta. Meu pai toda hora ia ao meu quarto. Entrei em depressão.
Falava somente o necessário. Deixei de atender ao telefone, de assistir
televisão, estava deixando de viver. Um mês se passou e nada mudou dentro de
mim. Até que o silêncio de minha mãe foi quebrado. Ela levantou bem mais cedo
do que o de costume. Arrumou-se e foi até o meu quarto. Fez-me levantar e, sem
dizer aonde iríamos, vestiu-me roupas limpas. Penteou meus cabelos azuis e pôs
um pouco de água de cheiro em meu pescoço. Não falei nada. Eu não tinha forças
para falar. Entramos no carro e meus pais me levaram para a igreja.
– Não acredito que me
trouxeram para cá. O que vou fazer aqui neste lugar?
O homem, naquele lugar,
falava mais alto. Falava, falava, falava... E as pessoas choravam e se
alegravam. Eu queria o André.
12ª de um total de 16
crônicas.
Continua na próxima edição.
A história é fictícia e
baseada em fatos do cotidiano.
Nenhum comentário:
Postar um comentário