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terça-feira, 7 de maio de 2013

Eu perdi as oportunidades


No segundo domingo, é a mesma coisa. Eu já estou ficando cansada de ter que obedecer à minha mãe. Mais uma vez aquele homem fala e eu não ouço nem entendo nada. Acho tudo sem vida, quero voltar a viver. No terceiro domingo, resolvo levantar sozinha e me arrumar. Minha mãe fica imensamente feliz. Eu fico com imensa raiva. Faço isso para ela parar de empurrar esse Deus para mim. Eu aceito a vida, vida com o André, a minha vida.

Por volta das 11h da manhã, voltamos para casa. Uma maravilhosa e suculenta macarronada está nos esperando. Sentamos à mesa e nos deliciamos.

Já é tarde quando a campainha toca. É o entregador de flores. Minha mãe atende e me traz um ramalhete de rosas colombianas vermelhas. Lindas e perfumadas. Há um bilhete. Peço que leia para mim. Com toda sutileza, tira do envelope o papel amarelo escrito com letra tremida.


– É do André. Quer que eu leia?

– Sim, por favor.

Ela fala em tom baixo e com tristeza.

“Peço que me perdoe, eu estava nervoso. Volta pra mim?”

– Claro! Claro! Mãe, me dá o telefone! Vou ligar agora para ele!

– Você está seguindo o seu caminho, minha filha. A decisão é somente sua.

Não ouço uma palavra da minha mãe, quero o André de volta. Voltamos no mesmo dia. Deixo o repouso e volto para as baladas com ele e meus amigos.

15 de outubro de 1988, 23h47

– No dia em que você perdeu a criança, disse que se voltaria para o Homem de Branco. Mas nem se lembrou dEle quando saiu do hospital. (gargalhadas)

Novamente, eles me fazem lembrar de tudo nitidamente. As pessoas ficam desesperadas e gritando a todo momento. Não existe nenhum segundo de paz. O tempo todo, em todo lugar, existe pânico. O pedido de socorro, o lamento... Novamente o desespero. Vermes, bichos entram nas pessoas. Eles querem me jogar em um lugar preparado para aqueles que um dia serviram ao Homem de Branco. Dizem que é o nosso galardão.

– No domingo, você teve a decisão de tomar o caminho certo, mas não deixamos. Você sempre fez a nossa vontade.

Acho que não vou conseguir sair daqui, não acho nenhuma saída. Os demônios estão por todo lado. São bichos horrorosos, escabrosos, fedorentos, dá muito nojo chegar perto deles. Eles batem nas pessoas, atormentam-nas o tempo todo, não existe paz... Nem por um milésimo de segundo existe paz. Minha boca está seca, parece que meu corpo está ficando todo ressecado...

Eu não ouvia nada, achava que era esperta e minha mãe enganada com facilidade. Eu é que era enganada e não sabia. Tive oportunidades e não aceitei. O calor é tão grande que é impossível respirar. Sinto muitas dores... Imagine isso por bilhões e trilhões de anos!!! Descobri que não vale a pena satisfazer a vontade da carne e do coração e depois passar a eternidade neste tormento.

13ª de um total de 14 crônicas. 

Continua na próxima edição.

A história é fictícia e baseada em fatos do cotidiano.

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