Era aniversário da "coisa": estava completando 7 anos. Eu nunca dirigi a palavra à "coisa". Afinal, eu a odiava com todas as minhas forças. Minha tia já não falava muito comigo, não tínhamos diálogo, ela estava sempre bêbada, e eu sempre preocupada em como ganhar dinheiro. Foi feita uma festa para a "coisa"; ela me fitava com os olhos da minha mãe, como quando minha querida mãe dizia que me amava e seus olhos brilhavam; era assim que a "coisa" me olhava. Eu saí correndo da casa, não queria nem saber do que se tratava.
– Anne, meu bem, chegaram presentes para você.
– Ah, muito obrigada, vou abri-los na sala, junto com minhas amiguinhas. Anne é o nome da aniversariante, uma bela e formosa menina, com cabelos louros e cacheados, olhos claros e uma voz suave. Menina sofrida, por causa da ausência da mãe, mas isso não tirava a sua inocência em amá-la mais do que tudo neste mundo.
Chegou a hora de cortar o bolo.
– Faça um pedido, Anne – disse uma amiga de escola.
– Meu Deus, eu quero que minha mãe me ame.
Todos à sua volta seguraram as lágrimas, e a menina, alegre com sua festa, cortou o bolo e se divertiu. Foi um dia de presentes e brincadeiras para um pequeno ser de 7 anos. Anne corria pela casa brincando e enfeitando o lugar com seu encanto e beleza.
Que culpa tinha aquela criança? Ela não sabia de nada, apenas que sua mãe a odiava mais do tudo neste mundo e que nunca havia dirigido a palavra a ela, tampouco saído de sua boca o seu nome: Anne.
16ª parte de um total de 22 crônicas.
Continua na próxima edição.
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