
A "coisa"
ficava lá, o tempo todo junto comigo. Será que ela não tem casa para ir, não?
Amanheceu e eu despertei,
ainda muito fraca. Queria o crack, estava irritada, dependia de todos pra tudo.
Senti alguém mexendo nos
meus cabelos, ou no que sobrara deles. Era a "coisa" que estava me
penteando. Eu queria que ela saísse dali, mas não conseguia falar nem me mexer.
"A senhora é tão
linda, e eu sinto tanto a sua falta... Nesta noite pedi a Deus para tirar você
daqui com saúde. Naquele dia do tiroteio pedi para Ele cuidar de você, e Ele
cuidou. Muitos morreram, mas não a minha mãe. Minha professora Clara disse que
tudo o que pedir a Deus e crer Ele fará."
Será isso verdade mesmo?
Será que posso mudar de vida? É muito bom para ser verdade! Ah, se eu tivesse
falado com minha mãe... Se não tivesse experimentado o álcool, se não tivesse
entrado na prostituição, se não tivesse conhecido o crack...
São tantos "se não
tivesse"... Eu acreditava que era forte, que tinha controle sobre minha
vida... Que nada! É só olhar para mim agora e ver meu estado, numa cama de
hospital, sem forças, sendo cuidada por alguém que nem tem tamanho.
Ela é tão pequena e sabe
tanto... Até consigo olhar para o seu rosto sem ter vontade de matá-
la ou de desprezá-la. Deve ser porque é a única que está comigo neste momento.
la ou de desprezá-la. Deve ser porque é a única que está comigo neste momento.
Minha tia ia me visitar e
levava frutas, mas eu não me lembro, pois sempre estava sob efeito de
calmantes.
Os dias foram passando e
fui me recuperando, dia após dia, um atrás do outro, com remédios e uma luta
constante por abstinência à droga.
25ª de um total de
31 crônicas.
Continua na
próxima edição.
A história é fictícia
e baseada em fatos do cotidiano.
Nenhum comentário:
Postar um comentário