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segunda-feira, 2 de julho de 2012

“Resolvi fazer um teste”


Não consigo ficar na luz, estou com sensibilidade nos olhos, meu corpo dói tanto que parece que não vou suportar a dor. Tenho febre, sinto muito enjoo; é a falta das drogas, é isso que alguém em abstinência sente.

Não aguento mais, não vou conseguir...

Em uma tarde, elas chegaram em casa e eu estava tendo uma crise; quebrei o quarto todo, não sobrou nada. Pensei que elas iriam gritar comigo, acabar com minha vida, me expulsar de lá, me internar ou coisa assim.

– Tem um modo de você mudar de vida. É somente querer – disse minha tia.

Abri minha boca pela primeira vez depois de muito tempo.

– Como? Estou morrendo! Não aguento mais e vocês ficam aí paradas acreditando em quê?

– Acreditando que Deus pode mudar sua situação.

– Se Ele existisse mesmo, não me deixaria passar por tudo isso!

– Não foi Deus que deu drogas para você usar, foi você que as aceitou. Não foi Deus que a colocou na prostituição, foi você quem ia todos os dias em busca de clientes. Não foi Deus quem a levou naquele dia para o meio daquela chacina. Mas foi Deus que a livrou da morte naquele mesmo dia. Foi Deus que impediu que você morresse naqueles programas. Foi Deus que não deixou você morrer por overdose. E agora Deus lhe dá uma oportunidade de mudar de vida assim como eu mudei. A escolha é sua.

Não tive palavras, porque consegui pensar um pouco no que havia ouvido. Meus neurônios não estavam funcionando muito bem por causa da falta das drogas, mas minha vontade de voltar a ser gente e deixar de ser "lixo" era tão grande que consegui ser convencida por aquelas palavras.

Resolvi fazer um teste, seria o último. Se esse Deus não mudasse a minha vida, eu me mataria, porque não conseguia mais viver daquela forma.

28ª de um total de 31 crônicas.

Continua na próxima edição.

A história é fictícia e baseada em fatos do cotidiano.

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