Não consigo ficar na luz,
estou com sensibilidade nos olhos, meu corpo dói tanto que parece que não vou
suportar a dor. Tenho febre, sinto muito enjoo; é a falta das drogas, é isso
que alguém em abstinência sente.
Não aguento mais, não vou
conseguir...
Em uma tarde, elas
chegaram em casa e eu estava tendo uma crise; quebrei o quarto todo, não sobrou
nada. Pensei que elas iriam gritar comigo, acabar com minha vida, me expulsar
de lá, me internar ou coisa assim.
– Tem um modo de você
mudar de vida. É somente querer – disse minha tia.
Abri minha boca pela
primeira vez depois de muito tempo.
– Como? Estou morrendo!
Não aguento mais e vocês ficam aí paradas acreditando em quê?
– Acreditando que Deus
pode mudar sua situação.
– Se Ele existisse mesmo,
não me deixaria passar por tudo isso!
– Não foi Deus que deu
drogas para você usar, foi você que as aceitou. Não foi Deus que a colocou na
prostituição, foi você quem ia todos os dias em busca de clientes. Não foi Deus
quem a levou naquele dia para o meio daquela chacina. Mas foi Deus que a livrou
da morte naquele mesmo dia. Foi Deus que impediu que você morresse naqueles
programas. Foi Deus que não deixou você morrer por overdose. E agora Deus lhe
dá uma oportunidade de mudar de vida assim como eu mudei. A escolha é sua.
Não tive palavras, porque
consegui pensar um pouco no que havia ouvido. Meus neurônios não estavam
funcionando muito bem por causa da falta das drogas, mas minha vontade de
voltar a ser gente e deixar de ser "lixo" era tão grande que consegui
ser convencida por aquelas palavras.
Resolvi fazer um teste,
seria o último. Se esse Deus não mudasse a minha vida, eu me mataria, porque
não conseguia mais viver daquela forma.
28ª de um total de
31 crônicas.
Continua na
próxima edição.
A história é
fictícia e baseada em fatos do cotidiano.
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