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segunda-feira, 29 de abril de 2013

Pedras de sacrifício


De suor em suor, o Templo de Salomão é erguido como um gigante, revestido de força, fé e sacrifício

Quando o espanhol Stefan Mendes falou sobre a família, os olhos azuis ficaram vermelhos.

Stefan tem 35 anos de idade e há 16 trabalha com pedras. Já foram muitas as que carregou com suas pequenas mãos – ele já montou cerca de 140 mil m² de pedras de todos os tipos e tamanhos ao longo de todos esses anos exercendo a profissão, herdada do pai.

Antes de chegar ao canteiro de obras do Templo de Salomão, há uma semana, estava na Rússia, montando pedras na construção de uma luxuosa mansão do presidente da Ucrânia. Lugar gelado, cinzento, distante. Quando se lembra da família, exprime outra palavra: sacrifício.

Depois dessa obra, veio transferido para o Brasil e está, neste momento, com outros cinco espanhóis encaixando as pedras, vindas de Israel, na fachada do Templo de Salomão. Ele trabalhou também na construção do Centro Cultural Internacional Oscar Niemeyer, em Astúrias, Espanha.


Stefan fica com os olhos marejados facilmente pela saudade que tem da família. “É ruim, porque só mando dinheiro, só mando dinheiro... Ficar perto é difícil”, completa, falando um português bem compreensível.

É grande o empenho com que faz o trabalho, afinal, vem daí o seu sustento e o de sua família. Primeiro, os trilhos são presos nos perfis de alumínio; depois, as pedras rugosas e pesadas são encaixadas, uma a uma, num trabalho estritamente manual e cuidadoso.

A pedra que Stefan está montando é de um dos três tipos que serão utilizados na construção. Oriundas da pedreira de Hebron, em Israel, foram cortadas por meio de retroescavadeiras, serradas e acopladas em contêineres, finalizando assim o processo de extração ainda na fonte. Depois, seguiram do porto de Ashod direto para o porto de Santos, em São Paulo.


Essa pedra, bastante utilizada nas construções de Jerusalém, mede 25x50x3 centímetros e é chamada de Taltishe. Cerca de 19 mil m² delas revestirão a fachada do Templo por meio de alta tecnologia, num processo chamado “fachada ventilada”, que facilita tanto a colocação como a manutenção das pedras.

Primeiro, um trilho (foto à direita) é colocado no perfil de alumínio já preso à parede. Depois, uma pedra de cada vez é encaixada. Em seguida, vem uma camada de silicone por entre as peças, fazendo o papel de rejunte.

Não é difícil entender o motivo de Stefan ficar tanto tempo longe de casa em seu trabalho específico com pedras ao redor do mundo. Se há uma coisa de que ele faz questão enquanto trabalha é se dedicar integralmente. “Não penso em outras obras. Não penso em outras construções, em novos trabalhos. Coloco força no que estou fazendo no momento, para não cometer erros”, explica.

Stefan é católico e, quando soube que trabalharia no encaixe de pedras da fachada do Templo de Salomão, procurou logo saber na internet do que se tratava. “Fiquei feliz e orgulhoso”, frisa.

Stefan é um colaborador desta monumental obra, mas há outros Stefans ao redor do mundo que também colaboram com a construção, encaixando à sua maneira, ou de diversas maneiras, a sua pedra particular em toda a extensão do Templo de Salomão.

São Stefans desconhecidos, brasileiros, espanhóis, indianos, portugueses, angolanos, argentinos, e de outras nacionalidades, que ajudam, de alguma forma, a encaixar a sua pedra de Israel. E para muitos, uma pedra de sacrifício.

Stefan sabe que só verá a esposa e as duas filhas, de 5 e 12 anos de idade, novamente daqui a alguns meses, quando terá uma semana com elas antes de retornar, desta vez até o término da obra. Mas o que talvez ele não saiba é que suas lágrimas de emoção e sa crifício misturam-se às de milhões de pessoas em todo o mundo que contribuem para que a construção, 53% concluída, seja finalizada.

De pedra em pedra, de lágrima em lágrima, e de suor em suor, o Templo de Salomão é erguido como um gigante, revestido de força, fé e sacrifício.

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