15 de outubro de
1988
Momentos antes
do acidente, André pega o carro do pai para darmos um passeio. Ele não tem
carteira de motorista, mas vamos apenas passear bem rapidinho, portanto não há
problema. Ele está correndo e ultrapassa um caminhão... Batemos nele de frente,
em alta velocidade
23h48
– Conseguimos!!
Tiramos a garota das ferragens do carro. Coloque-a na ambulância. O médico vai
junto. A pulsação dela está fraca.
– É um milagre
essa menina estar viva, não sobrou nada do carro – diz o paramédico.
– Temos de
correr contra o tempo!
23h49
Volto ao meu
corpo, vejo vultos perto de mim. Os médicos lutam para me dar a vida de volta.
Começo a sentir o cheiro de enxofre novamente, o calor do inferno está chegando
de novo em mim.
“Meu Deus,
socorro! Eu entrego minha alma ao Senhor neste momento, como nunca fiz, com
toda a minha força. Eu me coloco em Suas mãos! Me salve, eu creio no Senhor!”
Adormeço.
10 dias depois
Acordo no
hospital, estou com agulhas por todo lado. Minha mãe, coitada, está passando a
mão sobre meu rosto.
– Meu amor, você
voltou do coma. Deus me deu você novamente.
– Mãe, eu fui
até o inferno. Quero dizer que sempre a enganei, tudo o que eu falava era
mentira.
Ela coloca as
mãos em meus lábios e sorri para mim.
Neste momento,
começo a chorar. Tento me levantar, mas é impossível... Perdi minhas duas
pernas. Elas ficaram presas e foram esmagadas nas ferragens. Tudo culpa
minha...
Há uma cadeira
de rodas ao lado da cama. Meu pai a comprou para mim. Nesta semana, completo 17
anos e passo meu aniversário em coma. Em vez de ganhar um belo anel de ouro,
sou presenteada com uma cadeira de rodas. Peço um espelho para me olhar. Meu
cabelo está curto de um lado e do outro estou careca, 19 pontos fechando minha
cabeça. Muitos pontos no rosto, quase tirando minha expressão. Parafusos nos
braços... Pergunto pelo André.
– Ele morreu no
acidente – revela minha mãe.
Minha alma dói
sobremaneira. Choro... Não porque sinta sua falta, mas porque sei onde ele está
neste momento! Depois de três dias, saio do hospital. Vou até a igreja e passo
a entender o que aquele homem fala. Consigo entender também por que as pessoas
choram quando entregam suas vidas a Deus. Novamente aquela música é cantada:
“Hoje você tem a escolha, qual caminho vai aceitar? Vida ou morte?”
Sei bem o que
essa letra quer dizer. Não posso deixar minha alma entregue ao mundo... Um ano
após o acontecido, resolvi escrever este livro para alertar você... A escolha é
sua!
Fim.
Clara Cristina
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